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Acredito que todo problema tem a hora “certa” de ser tratado. Se
nas nossas primeiras investidas espaciais ficássemos preocupados
em não deixarmos partes de foguetes; satélites já inoperantes;
peças; resíduos; ferramentas; etc., vagando “soltos” no espaço;
certamente o nosso desenvolvimento astronáutico teria sido bem
mais lento.
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Hoje, várias décadas após o Sputnik, a situação é muito
diferente. Por um lado, esses “dejetos” (ou “lixo”) gravitando
em torno de nosso planeta já são em tão grande número (e o
numero deles cresce cada vez mais) que têm ameaçado a segurança
de nossos astronautas; naves; satélites; etc.; e em alguns
casos, já têm até ameaçado a nossa segurança em terra. Por outro
lado, o nosso conhecimento astronáutico chegou a um nível que
nos permite investir na procura de soluções práticas e
economicamente viáveis para o problema, sem determos nosso
desbravamento espacial.
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Dia 22 passado, um estranho objeto, com um metro de diâmetro,
caiu a cerca de 150 metros da sede de uma fazenda em Montividiu,
interior de Goiás.
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Seria sobra de algum satélite ou foguete? Possivelmente um
tanque de combustível?
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Essa não é a primeira vez que registramos a queda de lixo
espacial em território brasileiro. Em 1995, por exemplo,
fragmentos de um satélite chinês de comunicação caíram no
interior de São Paulo, no município de Itapira. Em 1966, um
tanque de combustível de um foguete Saturno, com um metro de
diâmetro caiu na costa do Pará, sendo achado por pescadores.
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Nada tão “espetacular”, entretanto, quanto o ocorrido na
madrugada de 11 de março de 1978, quando partes de um foguete
soviético reentraram na atmosfera acima da cidade do Rio de
Janeiro e caíram no Oceano Atlântico. Foi um belo espetáculo.
Inúmeros fragmentos, entrando em ignição devido ao atrito com a
atmosfera, brilharam intensamente, enquanto “cortavam o céu”.
Mas se a reentrada tivesse acontecido alguns minutos depois
teríamos uma tragédia, pois a queda seria na área urbana do Rio
e não no oceano.
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Em fevereiro passado um satélite norte americano desgovernado
(usado para espionagem) foi destruído por um míssil, felizmente
com “sucesso”, antes que caísse sobre alguma região de nosso
planeta. Esse satélite estava carregado com hidrazina, elemento
altamente tóxico. A queda desse satélite em área habitada
poderia levar a um número incalculável de mortes. A sua
explosão, entretanto, produziu um número incalculável de dejetos
e detritos que estão orbitando nosso planeta a baixas altitudes
(perigeo abaixo de 200km). As suas partes maiores, com mais de
10 centímetros, deverão reentrar na nossa atmosfera em junho e
julho próximos.
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Em
março de 2001 a estação espacial russa Mir, de 120 toneladas,
voltou ao nosso planeta em uma queda controlada. Várias partes,
algumas com várias toneladas, caíram no Oceano Pacífico Sul, a
leste da Nova Zelândia — área essa designada por tratados
internacionais como nosso “lixão” espacial.
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O “lixo espacial” que mais deixou os cientistas apreensivos foi,
sem dúvida alguma, a estação espacial norte americana Skylab, de
69 toneladas, que em julho de 1979 caiu quase que totalmente
descontrolada na Terra. Várias de suas partes atingiram o oeste
da Austrália e o Oceano Índico. Cerca de quatro anos antes, um
estágio de 38 toneladas do foguete Saturno II, que lançou a
Skylab, já havia causado apreensão ao cair, também
descontroladamente, no Oceano Atlântico, ao sul dos Açores.
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Em
janeiro de 1979 um satélite militar soviético (Cosmos 954)
portando um pequeno reator nuclear ficou descontrolado, vindo a
cair no Canadá; felizmente em área desabitada. O serviço de
inteligência norte americano chegou a lançar um alarme atômico
para os paises ocidentais.
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Casos como esses em que temos nossas vidas ameaçadas por lixo
espacial, aqui, na superfície de nosso planeta, por enquanto
ainda são poucos. Entretanto esses corpos, ameaçando nossos
satélites, também ameaçam nossas pesquisas; comunicações;
informação; economia; etc.; e essa ameaça é diária.
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Os números não são precisos, mas segundo levantamento efetuado
pela NASA (Agência Espacial Norte Americana), calcula-se que
existam por volta de 3,5 milhões de resíduos metálicos; lascas
de pintura; plásticos; etc., com dimensões inferiores a um
centímetro, orbitando nosso planeta. Objetos entre um e dez
centímetros, nessas mesmas condições, devem ser cerca de 17,5
mil; e sete mil com tamanhos maiores que dez centímetros. No
total, devemos ter mais de três mil toneladas de lixo espacial
orbitando nosso planeta a menos de 200 km de altitude.
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Até mesmo partículas ínfimas como pequeníssimas lascas de
pintura, podem danificar irremediavelmente uma nave ou um
satélite ou mesmo matar um astronauta devido às altíssimas
velocidades que adquirem. A velocidade média desses dejetos é da
ordem de 25 mil km/h.
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O acidente espacial mais grave até hoje registrado aconteceu em
julho de 1996. Um satélite militar francês (Cerise) foi atingido
por um fragmento de um foguete também francês (Ariane) que dez
anos antes havia explodido no espaço. O satélite se
desestabilizou, vindo a cair, felizmente de forma controlada, em
nosso planeta.
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Algumas ações (por enquanto ainda tímidas) têm sido realizadas
para se enfrentar o problema do lixo espacial. Em fevereiro de
2007, a ONU deu um passo importante nesse sentido, aprovando as
“Diretrizes para a Redução dos Dejetos Espaciais”, em reunião do
Sub-comitê Técnico-Científico do Comitê da ONU para o Uso
Pacífico do Espaço (COPUOS).
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Tais diretrizes, entretanto, não têm sido seguidas. Em julho
passado, por exemplo, os astronautas Clay Anderson e Fyodor
Yurchikhin, “limpando” a Estação Espacial Internacional,
descartaram no espaço um tanque de amônia de 636 kg.
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