Prof. Renato Las Casas (28/junho/2011)
O Irã, que planeja enviar um homem ao espaço em 2020, anunciou recentemente que enviará três novos foguetes ao espaço nos próximos meses. Em um desses novos foguetes deverá viajar um macaco.
Começa assim mais um capítulo do drama “Animais, no Espaço”; dessa vez, promovido pelo Irã. Desnecessário dizer que essas experiências geram muitas polêmicas.7
Já nos anos 40, pensando em ir ao espaço, os norte-americanos sacrificaram dois macacos (Albert I e Albert II) embarcando-os em mísseis V2 capturados dos alemães durante a guerra.
O primeiro primata que alcançou o espaço foi Gordo, um macaco-esquilo enviado também pelos norte-americanos a bordo de um foguete Júpiter AM-13; em dezembro de 1958. Segundo a Agência Espacial Norte Americana (NASA), Gordo teria regressado à Terra com vida; porém um defeito no mecanismo de flutuação da cápsula que o trazia impediu o resgate. Gordo teria morrido no fundo do mar.
Em maio de 1959 uma nova experiência norte-americana. Baker (um macaco-esquilo) e Able (uma fêmea de macaco rhesus) foram enviados ao espaço a bordo de um foguete Júpiter AM-18. A experiência foi um sucesso e marcou o primeiro resgate com êxito de seres vivos enviados ao espaço. Able teve menos sorte que Baker, morrendo na cirurgia de retirada dos sensores que haviam sido implantados em seu corpo para transmissão de seus sinais vitais.
Em dezembro de 1959 os norte-americanos enviaram em um voo sub-orbital, a bordo do foguete “Little Joe”, o macaco rhesus Sam e em janeiro de 1960 a sua namorada Miss Sam. Ambos foram resgatados com sucesso. Contam que Sam, após o seu retorno do espaço, de volta ao laboratório da NASA, abraçou emocionado Miss Sam.
Ham foi o primeiro chimpanzé enviado ao espaço, em janeiro de 1961, a bordo de um foguete Redstone 2 da NASA. Seu resgate também foi um sucesso.
O segundo chimpanzé enviado ao espaço e o primeiro a orbitar a Terra foi Enos, em novembro de 1961, a bordo de um foguete Atlas 5, também da NASA. Vários problemas ocorreram durante a missão. Enos teria sido resgatado ainda com vida, falecendo pouco depois.
Primatas foram os precursores dos astronautas norte-americanos e cães foram os precursores dos cosmonautas soviéticos.
Os cientistas norte americanos preferiram os primatas em suas pesquisas nos primórdios da astronáutica, por suas semelhanças com os seres humanos.
Já os cientistas russos preferiram os cães por considerá-los mais adequados a passarem por longos períodos de inatividade. Eram escolhidos cães de rua, uma vez que esses teriam estrutura psicológica mais adequada para suportar o rigor e o “estresse” de tais viagens, do que cães “bem criados”. Eram também escolhidas fêmeas, não apenas por seus temperamentos mais dóceis, mas também porque o equipamento desenvolvido para coletar a urina e as fezes dos animais foi desenvolvido apenas para as fêmeas.
O primeiro animal enviado ao espaço foi Laika, uma cadela russa lançada a bordo do Sputinik 2, em novembro de 1957. A era espacial havia sido “inaugurada” menos de um mês antes, com o lançamento do Sputinik 1.
Laika era “vira lata”, tinha dois anos de idade, pesava aproximadamente seis quilos e vivia solta pelas ruas de Moscou quando foi capturada para o programa espacial soviético.
O Sputinik 2, com Laika a bordo, foi lançado na madrugada do dia 3 de novembro de 1957. Os sinais vitais de Laika, colhidos por sensores presos a seu corpo, eram enviados à Terra em ondas de rádio e seguidos pelos cientistas soviéticos (vários rádio amadores, em diversas partes do mundo, também captaram esses sinais).
Após três horas de micro gravidade, Laika estava agitada e estressada, porém comendo. A recepção dos dados vitais dessa nossa heroína, parou entre cinco e sete horas após a decolagem. Laika morreu devido ao alto estresse a que foi submetida e ao superaquecimento da cápsula em que viajava, porém nos trouxe a certeza: - “Animais, incluindo aí os Humanos, poderiam sobreviver à microgravidade”.
O Sputinik 2 ficou no espaço com o corpo de Laika já sem vida, durante 163 dias e deu 2.570 voltas em torno de nosso planeta. A cápsula explodiu ao reentrar na atmosfera em 14 de abril de 1958.
Embora autoridades soviéticas houvessem afirmado em um primeiro momento que pretendiam resgatar Laika com vida, isso era impossível. A decisão de se mandar um ser vivo ao espaço fora tomada poucos dias antes, após o grande sucesso do Sputinik 1. O Sputinik 2 fora construido às pressas. O retorno de seu ocupante seria um problema a ser encarado em futuras missões. Pretendiam dar comida envenenada a Laika, se ela sobrevivesse por dez dias no espaço.
Laika foi o primeiro animal a morrer no espaço. Muitos outros já tiveram o mesmo destino e muitos outros ainda lhe seguirão. Laika, entretanto, foi o primeiro e ultimo cão a ser enviado ao espaço sem esperança de resgate.
Em julho de 1960, em um teste de vôo da nave soviética Vostok, o foguete explodiu durante o lançamento, matando seus dois ocupantes, as cadelinhas Bars e Lisichka.
O primeiro resgate com sucesso de cães enviados ao espaço foi de Belka e Strelka, lançados em agosto de 1960 a bordo do Sputinik 5, em companhia de quarenta camundongos; dois ratos e algumas plantas. Um filhote de Strelka, que recebeu o nome de Pushinka foi dado de presente a Caroline Kennedy por Nikita Khruschev, em 1961. São conhecidos vários descendentes de Pushinka.
Em dezembro de 1960 foi a vez de Pchelka e Mushka, lançadas a bordo do Sputinik 6. Essas cadelinhas passaram um dia em órbita. A reentrada da cápsula na atmosfera, entretanto, não se deu no ângulo previsto. O Sputinik 6 explodiu, matando suas ocupantes.
Ainda em dezembro de 1960, Damka e Krasavka, a bordo do Sputinik 7, quase tiveram a mesma sorte. Devido a um problema no estágio superior do foguete a missão foi abortada pouco após o lançamento. Essas cadelinhas foram então forçadas a realizarem um vôo sub-orbital não planejado, sendo em seguida resgatadas com segurança.
Em março de 1961 a cadela Chernushka, foi lançada a bordo do Sputinik 9, junto com alguns ratos e um porco da Guiné. Essa viagem foi um sucesso total. Duas semanas depois, em outra missão de sucesso, foi a vez de Zvezdochka ser lançada a bordo do Sputinik 10.
Após Zvezdochka, os soviéticos se sentiram confiantes para mandarem o primeiro homem ao espaço. Yuri Gagarin subiu a bordo de uma cápsula Vostok em 12 de abril de 1961.
Testes com animais no espaço continuaram sendo realizados, não apenas pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Na década de 60 a França enviou ao espaço sete missões com animais. Em três delas foram enviados ratos; em duas, gatos e nas outras duas, macacos. Nessas missões foram resgatados com vida um rato, um gato e os dois macacos.
Em julho de 1973 a NASA lançou duas aranhas, Arabella e Anita, a bordo do foguete Saturno V, com destino à estação espacial Skylab, onde passaram vários dias. Essa havia sido uma idéia de um estudante secundarista norte americano. Seriam as aranhas capazes de tecerem teias na microgravidade? Anita morreu na Skylab, pouco antes de seu retorno à Terra e Arabella morreu na cápsula de regresso, durante a reentrada na atmosfera. Seus corpos permanecem até hoje em exibição no Museu Smithsonian de Washington.
Nas décadas de 70, 80 e 90, a Rússia e a antiga União Soviética lançaram onze satélites levando seres vivos, como parte do projeto Bion. Foram ratos, macacos, peixes, anfíbios, minhocas, insetos, protozoários, etc.
A NASA, nas ultimas décadas, usou os ônibus espaciais para o envio de animais ao espaço. Além de macacos, ratos, peixes, minhocas, aranha, plantas, também já foram enviados bichos da seda, abelhas, fungos, bactérias, lesmas, larvas, ostras e musgos.
A discussão sobre os direitos dos animais e sua utilização em pesquisas científicas já é bem antiga. No século XVIII, por exemplo, o filósofo Jeremy Bentham já questionava:
- A questão não é: podem eles raciocinar ou podem eles falar; mas, podem eles sofrer?
Nos anos 70, o livro “Animal Liberation” de Peter Singer, causou repercussão mundial, principalmente devido aos relatos das condições que os animais eram submetidos em pesquisas realizadas pela indústria de cosméticos e no processo de produção de alimentos.
Em decorrência disto, nos Estados Unidos, grupos de defesa dos direitos dos animais, além de manifestações públicas, realizaram várias ações contra instalações de pesquisa; “libertando” cerca de 2.000 animais; causando prejuízo de mais de 7 milhões de dólares em equipamentos e interrompendo várias pesquisas.
No Brasil, desde 1979 existem leis que estabelecem normas para práticas didático-científicas com o uso de animais. Entretanto essa continua sendo, acima de tudo, uma questão ética.
O “Colégio Brasileiro de Experimentação Animal” (COBEA), entidade filiada ao “International Council for Laboratory Animal Science”, procurando aprimorar as condutas dirigidas à experimentação animal no Brasil, postula:
No Artigo I: Todas as pessoas que pratiquem experimentação biológica devem tomar consciência de que o animal é dotado de sensibilidade; de memória e que sofre sem poder escapar à dor.
No Artigo II - dos Princípios Éticos: O experimentador é moralmente responsável por suas escolhas e por seus atos na experimentação animal.
No Artigo V: Os investigadores devem considerar que os processos determinantes de dor ou angústia em seres humanos causam o mesmo em outras espécies.
No Artigo VI: Todos os procedimentos com animais que possam causar dor ou angústia precisam se desenvolver com sedação; analgesia ou anestesia adequada. Atos cirúrgicos ou outros atos dolorosos não podem se implementar em animais não anestesiados e que estejam apenas paralisados por agentes químicos e/ou físicos.