Prof. Renato Las Casas e Divina Mourão (31/08/98)
Nada no Universo é eterno. Tudo é muito dinâmico, em constante modificação. O Universo foi formado a cerca de 16 bilhões de anos; a nossa galáxia a 13 bilhões e o sistema solar a 4,5 bilhões.
O Sol é uma estrela como centenas de milhares de outras, contando só as da nossa galáxia. As estrelas nascem, vivem e morrem. O tempo estimado de vida de uma estrela como o Sol é de 9 bilhões de anos, o que faz com que daqui a outros 4,5 bilhões de anos tenhamos o seu fim, assim como de todo o sistema solar, em uma grande explosão que ejetará gás e poeira em todas as direções. Se lembramos que o aparecimento do homem na Terra se deu a poucas centenas de milhares de anos, vemos que temos ainda muito tempo pela frente, até o fim certo de nosso planeta.
Acontece entretanto que a Terra orbita o Sol em uma região por onde freqüentemente passam asteróides e cometas com tamanhos suficientes para, em uma colisão com nosso planeta, provocará extinção da vida humana. Poderia uma catástrofe dessa natureza significar o Apocalipse?
Tendo em vista a exibição quase que consecutiva em todo o mundo e particularmente em rede nacional de cinemas de dois filmes de grande bilheteria que tratam da colisão de grandes asteróides e cometas com a Terra (o segundo deles, Armagedon, ainda está em cartaz em Belo Horizonte); o Observatório Astronômico da Serra da Piedade estará abordando esse tema em uma de suas aulas públicas do próximo sábado.
Asteróides são objetos sem atmosfera, rochosos e metálicos que orbitam o Sol e cujos tamanhos variam de alguns poucos metros até quase 1000 km (o maior asteróide conhecido, Ceres, tem 980 km de diâmetro). São conhecidos dezesseis asteróides com diâmetro superior a 240 km.
Até hoje foi possível fotografarmos "de perto", permitindo-nos a visualização de detalhes, apenas três asteróides. A foto acima é do asteróide Ida e foi obtida pela sonda espacial Galileo, em agosto de 1993, a apenas 3.000 km de distância. É nítidamente visível o grande número de crateras na superfície de Ida, devido a impactos sofridos através dos tempos, com corpos menores. Ida tem 56 km de comprimento.
A sonda Galileo encontra-se hoje cumprindo sua função principal que é obter informações sobre Júpiter e suas luas. No caminho para Júpiter a sonda Galileo se aproximou de dois asteróides, Ida e Gaspra, e os fotografou. Essas são as mais ilustrativas fotos até hoje obtidas de asteróides.
Ida é um asteróide do tipo S, formado por silicatos ricos em metais. A maioria dos asteróides conhecidos (75%) são do tipo C, ricos em carbono.
Cometas têm órbitas muito elípticas, que os trazem próximo ao Sol e os levam longe no sistema solar. Longe do Sol, cometas são como que imensas pedras de gelo sujo, formados por uma mistura de material volátil (que quando aquecido passa diretamente do estado sólido para o estado gasoso) e grãos rochosos e metálicos de tamanhos variados. Quando se aproxima do Sol (e conseqüentemente da Terra) parte do material que forma o cometa se volatiliza, dando origem à sua cabeleira e à sua cauda. A cabeleira que envolve o núcleo de um cometa e a sua cauda, empurrada pelo "vento solar" no sentido oposto ao que o Sol se encontra são formadas assim de gases e poeira que se desprendem desse núcleo (essa pedra de gelo sujo). Mais de 99% da massa de um cometa está em seu núcleo.
Até hoje a única imagem feita do núcleo de um cometa foi do Halley, obtida pela sonda Giotto em março de 1986. Pelo fato dos núcleos dos cometas quando se aproximam da Terra estarem envoltos em suas cabeleiras, não nos é possível vê-los. Para fazer a foto acima a sonda Giotto teve que entrar dentro da cabeleira do Halley. O tamanho do núcleo do Halley foi estimado em 16x8x8 km. A parte mais clara nessa foto corresponde à ejeção de gases e poeira em regiões de sua superfície devido ao processo de volatilização.
Basta olharmos o grande número de crateras que encontramos na superfície da Terra, algumas delas com quilômetros de diâmetro, oriundas de colisões de asteróides e cometas com nosso planeta, para reconhecermos a possibilidade de catástrofes provenientes de tais colisões.
A extinção dos dinossauros, por exemplo, é creditada á colisão com a Terra de um asteróide de aproximadamente 10 km de diâmetro. Esse asteróide haveria caído na região do golfo do México a 65 milhões de anos e em sua queda levantou uma nuvem de poeira tão grande que se espalhou por toda a atmosfera e ficou suspensa durante séculos, mudando o clima do planeta e diminuindo sensivelmente a vegetação existente, levando gradativamente os dinossauros à extinção. Em 1908 um asteróide de aproximadamente 50 metros de diâmetro haveria "explodido" no ar sobre o rio Tunguska, na Sibéria, devastando mais de 2.000 quilômetros quadrados de densa floresta.
Para um corpo colidir com a Terra é necessário que ele passe por onde a Terra passa, ou seja, é necessário que a sua órbita cruze a órbita da Terra. Estimamos que existam cerca de 2.000 asteróides e cometas cujas órbitas cruzam a órbita da Terra; desses apenas 200 são conhecidos e constantemente monitorados. Com toda segurança podemos afirmar que nenhum dos objetos conhecidos colidirá com a Terra, pelo menos nos próximos 100 anos. Resta contudo a possibilidade de virmos a descobrir um objeto em rota de colisão com nosso planeta, para daqui, digamos, algumas poucas dezenas de anos.
O número de corpos do sistema solar diminui muito à medida que seus tamanhos aumentam; ou seja: existem muitos corpos pequenos, porém poucos corpos grandes. Isso faz com que a probabilidade de colisões com nosso planeta diminua com o aumento do tamanho dos corpos. Entretanto, devido à grande velocidade desses corpos, mesmo um cometa ou asteróide "pequeno" que cair na Terra, poderá liberar uma quantidade muito grande de energia.
Objetos de 10 a 30 metros de diâmetro, colidindo com a Terra, seriam capazes de liberar uma energia de 3 a 1.000 megatons (equivalente a centenas de bombas de Hiroshima). Estimamos que a freqüência de colisões de corpos dessa faixa de tamanho com a Terra deva ser de 1 a 100 anos. Objetos de 30 a 200 metros de diâmetro liberariam uma energia de 1.000 a 10.000 megatons e devem cair na Terra com uma freqüência de 100 a 10.000 anos. O asteróide que caiu em Tunguska no início do século se encontra nessa faixa de tamanho.
Objetos de 200 metros a 2 quilômetros de diâmetro liberariam uma energia de 10.000 a 100.000 megatons e devem cair na Terra com uma freqüência de 10.000 a 1 milhão de anos. Seriam capazes de devastar áreas equivalentes a um continente.
Objetos de 2 a 10 quilômetros de diâmetro liberariam uma energia de 100 mil a 1 milhão de megatons e devem cair na Terra com uma freqüência de 1 milhão a 100 milhões de anos. O asteróide que provocou a extinção dos dinossauros se encontra dentro dessa faixa de tamanho.
Objetos com mais de 10 quilômetros de diâmetro seriam capazes de extinguir a vida em nosso planeta e devem cair na Terra com uma freqüência de 100 milhões a 1 bilhão de anos. A imagem acima é uma simulação da colisão de um desses asteróides com a Terra.