Prof. Bismarck Vaz da Costa
O homem, desde que tomou conhecimento de si mesmo e do mundo que o cerca, faz perguntas e procura respostas para sua própria existência. O céu insondável, iluminado por infinitas contas brilhantes, a lua, o sol e os planetas em seu eterno caminho pelo céu levaram povos a criar lendas sobre o início do universo e sobre o inexorável fim de todas as coisas. Com o passar do tempo e a evolução da física, o homem aprendeu também a perscrutar o infinitamente pequeno dentro da matéria, descobrindo o átomo e seus constituintes: elétrons, prótons e nêutrons. Partículas ainda menores chamadas quarks foram recentemente descobertas. Os quarks são os constituintes dos prótons e nêutrons (e algumas outras partículas) e são ligados uns aos outros por forças extremamente poderosas. Para que os cientistas consigam "ver" um quark é necessário que duas partículas mais pesadas colidam uma com a outra a velocidades fantasticamente altas, o que é o mesmo que dizer a altíssima energia. Recentemente no laboratório nacional de Brookhaven nos Estados Unidos foi construído um acelerador de partículas conhecido como Relativistic Heavy Ion Collider (RHIC). Este equipamento pode acelerar uma partícula a velocidades que chegam a 99,9% da velocidade da luz. A colisão de duas partículas, a esta velocidade, pode reproduzir condições de temperatura e pressão que só poderiam ser encontradas no início do universo, durante os primeiros segundos da explosão primordial (Big Bang). A experiência preparada em Brookhaven pretende fazer a colisão de dois núcleos de ouro. Nestas condições, prótons e nêutrons dos dois núcleos se desintegrariam em seus menores constituintes, quarks e gluons (os quanta de energia que transmitem a força que mantém os quarks unidos). Estas partículas formariam por um breve intervalo de tempo uma "sopa primordial" chamada plasma. A medida que a temperatura fosse diminuindo os quarks combinariam entre si, formando aglomerados conhecidos como pre-hadrônicos que, finalmente se transformariam em hadrons (Pions, Kaons, Prótons, Nêutrons e outras partículas mais exóticas), exatamente como se acredita ter acontecido nos primeiros instantes de vida do Universo. Os tempos envolvidos nestas colisões são da ordem de 0,000000000000000000000001 segundos e as distâncias da ordem de 0,00000000000001 centímetros! Alguns jornais sensacionalistas argumentam que, em um caso extremo, mas muito improvável, a densidade de matéria na região de colisão dos dois núcleos poderia ser tão alta que haveria a formação de um pequeno buraco negro que causaria uma perigosa perturbação no universo. Esta é uma preocupação tão sem fundamento quanto dizer que o homem pisando na lua iria perturbar o sistema solar, tão comum trinta anos atrás.