ALGUNS GRANDES PROFESSORES DE CIÊNCIAS

Prof. Alaor Chaves (29/04/2008)

Várias escolas de ensino médio foram singularmente bem-sucedidas em formar alunos que mais tarde tornaram-se pessoas de grande destaque, especialmente no campo da ciência. Em alguns casos, podemos identificar um dado professor como a fonte de tal sucesso. Neste pequeno ensaio, apresentaremos alguns exemplos de professores muito bem sucedidos.

I - Bronx High School of Science: a imagem de Morris Meister?

Uma escola de ensino médio que chama a atenção de muitos estudiosos do ensino é a Bronx High School of Science (BHSS). Esta escola pública, fundada em 1938, foi por algum tempo talvez a melhor escola de ensino médio do mundo. Seu fundador, e grande inspirador dos métodos de ensino de ciências, foi o físico Morris Meister. A ênfase da escola no ensino da ciência está tanto no seu nome como no seu logo, que é o modelo de um átomo. Nenhuma outra escola de ensino médio formou tamanho número de cientistas eminentes. Dentre os seus ex-alunos, sete ganharam o Prêmio Nobel de Física, listados a seguir (o ano após cada nome indica a data de término do curso médio):

Leon N. Cooper (1947), Prêmio Nobel de Física de 1972.

Sheldon L. Glashow (1950), Prêmio Nobel de Física de 1979

Steven Weinberg (1950), Prêmio Nobel de Física de 1979

Melvin Schwartz (1949) Prêmio Nobel de Física de 1988

Russell A. Hulse (1966), Prêmio Nobel de Física de 1993.

H. David Politzer (1966), Prêmio Nobel de Física de 2004.

Roy J. Glauber (1941), Prêmio Nobel de Física de 2005.

Nota-se que Sheldon Glashow e Steven Weinberg foram colegas de turma. Ambos acabaram também compartilhando o Nobel de Física de 1979 pela formulação da teoria que unifica a força eletromagnética e a força nuclear fraca. Na mesma turma de Glashow e Weinberg, que se graduaram em 1950 na BHSS, estavam ainda dois alunos que vieram a se tornar físicos eminentes: Daniel Greenberg e Gary Feinberg. Este último foi quem, nos anos 1950, apontou que os neutrinos associados ao elétron e ao múon (uma partícula idêntica ao elétron, exceto pela massa) são partículas distintas.
Outros indicadores revelam o grande sucesso da BHSS em formação de futuros cientistas, como se vê: seis dos ex-alunos ganharam a National Medal of Science (até hoje concedida a 425 pessoas), vinte e nove deles são membros da United States Academy of Science (que conta com 2000 membros), vinte e dois são membros United States Academy of Engineering, e dez são membros do Institute of Medicine.
É muito freqüente que os ex-alunos da BHSS reconheçam seu débito à escola. Por exemplo, Melvin Schwartz disse: “Meu interesse em física realmente começou aos 12 anos, quando entrei na Bronx High School of Science em Nova Iorque.
Curiosamente, embora a BHSS tenha uma ênfase em ciências, muitos dos seus ex-alunos tiveram também grande sucesso em outras áreas. Por exemplo, cinco deles foram ganhadores do Prêmio Pulitzer, a saber:

William Sherman (1963), premiado em 1974

William Safire (1947) premiado em 1978

Joseph Lelyveld (1954), premiado em 1986

Bernard L. Stein (1959), premiado em 1998

William Taubman (1958) premiado em 2004.

Nota-se que todos os ganhadores dos prêmios Nobel e Pulitzer estudaram na BHSS nos anos 1940 e 1950; isso coincide com o período em que Morris Meister permaneceu nela. Depois disso, a BHSS ainda se manteve como uma excelente escola, mas não como aquela que se elevava acima de todas as outras. No ano 2007, foi colocada pelo U.S. News and World Report em vigésimo lugar na lista das Gold-Medal escolas de ensino médio americanas. Tal relativo declínio ocorreu apesar de o número de jovens que se candidata a cada ano ao ingresso na BHSS ser atualmente muito maior do que naquele tempo.

II - Lazzlo Rátz

Na Escola Luterana, em Budapeste, houve um professor excepcional de matemática e física chamado Lazzlo Rátz. Dentre os seus alunos podemos destacar os físicos (ou físicos-matemáticos) Eugene Wigner, John von Neumann, Edward Teller e Leon Szilard, além de Paul Érdos, um dos maiores matemáticos do século XX. Todos estes personagens renderam homenagem ao antigo professor, e por toda a vida von Neumann manteve uma foto de seu antigo mestre em seu gabinete de trabalho. Em Budapeste não existe qualquer rua com o nome de um desses grandes cientistas, mas há uma rua chamada Lazzlo Rátz. Por quanto tempo Rátz deu aula no colégio? Bem... por apenas três anos!

III - Sophie Wolfe

Na Abraham Lincoln High School (Nova Iorque) havia uma professora grandemente inspiradora chamada Sophie Wolfe. Na verdade, ela sequer foi alçada ao posto de professora, era apenas a administradora dos laboratórios de ciências. Mas criou ali um clube de ciências, onde ensinava os alunos a discutir ciência entre si. Dentre os freqüentadores desse clube podemos citar:

Arthur Kornberg, Prêmio Nobel de Medicina de 1959.

Paul Berg, Prêmio Nobel de Medicina de 1980.

Jerome Karle, Prêmio Nobel de Química de 1985.

Todos eles renderam homenagem a Sophie Wolfe. Sobre ela diz Paul Berg: “Ela tornava a ciência divertida, ela nos fazia discutir idéias, e quando melhor o fazíamos mais éramos elogiados.”
Em outra ocasião, o mesmo Paul Berg diz: “Seu amor por pessoas jovens e interesse em ciência levou-a a criar um clube de ciência (que se reunia) após as aulas. Em vez de responder às questões que formulávamos, ela nos encorajava a procurar, nós mesmos, as soluções, o que muito frequentemente se transformava em pequenos projetos de pesquisa. ... Olhando em retrospecto, entendo que cultivar a curiosidade e o instinto de procurar soluções é talvez a mais importante contribuição que pode ser dada pela educação.”

IV – Luis de Barros Freire

O pernambucano Luis de Barros Freire foi talvez o maior inspirador brasileiro de futuros cientistas . A partir dos anos 1920, quando se formou em engenharia civil, deu aula em diversos colégios de Recife, e também nas escolas superiores que mais tarde se nuclearam para formar a Universidade Federal de Pernambuco. Dentre seus ex-alunos (alguns deles tanto no colégio como no ensino superior) podemos mencionar Mário Schenberg, José Leite Lopes, Fernando Souza Barros, Ricardo Palmeira, David Gorodovitz, Rômulo Maciel , Fernando Cardoso Gama, José Waldir de Medeiros Campelo, Jaime Azevedo Gusmão Filho e José de Medeiros Machado. Sobre ele fala Leite Lopes: “Luiz Freire era o brilhante professor de física, cuja casa eu freqüentava aos domingos, a fim de escutar as suas preleções e comentários, desde a teoria dos conjuntos e os números transfinitos à mecânica quântica e à filosofia da ciência.”