Prof. Renato Las Casas (19/07/99)
Astrônomos às vezes se sentem Robinson Crusoé.
Nós, humanidade, sob certo ponto de vista somos Robinson Crusoé.
Estamos em um certo ponto de uma galáxia, tentando nos localizarmos no Universo.
Robinson, em sua ilha em um certo ponto do Pacífico, procurando pistas sobre sua vizinhança, observava os pássaros que passavam por ali; troncos de árvore carregados por correntes marítimas, etc. Nós, procurando pistas sobre o que nos cerca, temos a luz que chega dos astros para pesquisarmos.
Robinson construiu frágeis canoas e com elas se aventurou mar adentro, alcançando ilhas vizinhas. Há trinta anos, nós, em uma frágil espaçonave, alcançávamos a pedra mais próxima: nossa Lua.
Característica do desenvolvimento tecnológico atual, também a conquista espacial tem se desenvolvido a passos largos. Os primórdios dos foguetes atuais foram construídos há mais de mil anos na China. Semelhantes aos fogos de artifício de hoje, tinham a finalidade de diversão e de sinalização. No início do século um cientista russo, Konstantin Tsiolkovsky, defendeu a idéia de que foguetes com propelentes líquidos poderiam chegar ao espaço. O primeiro lançamento de um foguete desse tipo foi realizado por um americano, Robert Goddard, em 1926.
O grande avanço dessa tecnologia, porém, começou na década de 30 com o desenvolvimento do foguete V2 por militares alemães, onde se destacou o gênio de Wernher von Braun. Em 1944, perto do fim da II Guerra, essa nova arma foi usada para atacar Paris, Londres e Antuérpia. O V2 chegava a alcançar 160 km de altitude, sendo assim o primeiro objeto construído pelo homem a alcançar o espaço. O fim da II Guerra nos deixou dois grandes legados científico-militares: a bomba atômica e os foguetes de propelentes líquidos.
Em 1957 a União Soviética surpreendeu o mundo ao lançar o primeiro satélite artificial de nosso planeta, o Sputnik 1, uma esfera de alumínio com menos de 50 cm de diâmetro e quatro antenas que transmitiam ininterruptamente sinais de rádio para a Terra. O Sputinik 1 levou instrumentos para medir a temperatura e a densidade da alta atmosfera e nos enviou esses dados por 21 dias, até que suas baterias se esgotaram. Depois de passar 96 dias em órbita o Sputnik 1 reentrou na atmosfera e incendiou-se, devido ao atrito com o ar.
Seres humanos sobreviveriam no espaço? A resposta a essa pergunta também foi-nos dada pela União Soviética. Um novo Sputnik levou ao espaço a cadela Laika, que não sofreu nenhum efeito nocivo por uma semana, até que o suprimento de ar que levava se esgotou e ela morreu. Foi também a União Soviética que colocou o primeiro homem no espaço: Yury Gagarin, em 12 de abril de 1961. A bordo da nave Vostok 1, Gagarin gastou 108 minutos para dar uma volta completa em torno de nosso planeta. Como ainda não se conheciam bem os efeitos da falta de gravidade sobre o ser humano, o vôo de Gagarin foi totalmente controlado da Terra.
A União Soviética continuava liderando a "Conquista Espacial". Em outubro de 1964 a Voskhod 1 foi a primeira nave a transportar mais de uma pessoa (três) ao espaço. Em 18 de março de 1965, a Voskhod 2, com duas pessoas a bordo, registrou o primeiro "passeio" espacial. Aleksey Leonov foi a primeira pessoa a sair de uma nave espacial e "flutuar" no espaço, onde ficou por dez minutos.
Em 1959 a União Soviética havia dado início à "conquista da Lua" com o projeto Luna, que enviou várias naves ao nosso satélite natural. A Luna 1 foi a primeira nave a ir além da Lua e entrar em órbita do Sol; a Luna 2 foi o primeiro objeto construído pelo homem a alcançar o solo lunar; ainda em 1959 a Luna 3 foi a primeira sonda a fotografar a face oculta da Lua (a que nunca é vista da Terra); a Luna 9 fez o primeiro pouso suave na Lua e nos enviou imagens de TV de sua superfície; a Luna 10 entrou em órbita da Lua, tornando-se seu primeiro satélite artificial.
O projeto Luna se desenvolveu até 1976, mesmo depois da estada dos norte americanos em nosso satélite. Totalmente automatizadas, três sondas Luna recolheram amostras do solo lunar e as trouxeram à Terra, em 1970, 1972 e 1976. Após o pouso essas sondas estendiam um braço mecânico que perfurava a superfície da Lua para extrair solo e rocha. Esse material assim recolhido era colocado em uma cápsula no topo da nave, que fazia a viagem de volta com a amostra.
Do ponto de vista da ciência, havia a necessidade de se enviar uma nave tripulada à Lua? Mais que uma necessidade científica, pisar na Lua era um sonho da humanidade desde épocas imemoráveis. Em 1961, John Kennedy, então presidente dos Estados Unidos, prometeu que um norte americano pisaria no solo lunar antes do fim da década. O desenvolvimento científico e tecnológico acumulado estava prestes a nos propiciar a realização desse sonho. Teve início assim um dos maiores e mais fantásticos empreendimentos já realizados pelo homem. Naquela época ainda se sabia muito pouco sobre a superfície da Lua e nenhum americano tinha estado em órbita da Terra. Os cientistas norte americanos se viram frente a uma tarefa gigantesca. Em menos de dez anos deveriam construir um foguete com potência para levar à Lua uma nave grande e pesada o suficiente para comportar astronautas em seu interior. Essa nave após pousar na Lua deveria vencer a gravidade de nosso satélite e retornar com segurança à Terra. Isso além da escolha de um local seguro para o pouso.
Foram dois os programas predecessores do projeto Apollo. Entre março de 1965 e novembro de 1966 foram enviadas dez missões tripuladas ao espaço como parte do programa Gemini. O objetivo desse programa era testar e desenvolver técnicas que seriam necessárias para as missões Apollo, como os encontros espaciais e o acoplamento de duas naves. Entre agosto de 1966 e agosto de 1967 cinco naves do programa Lunar Orbiter entraram em órbita da Lua, com o objetivo da escolha de possíveis locais para pouso, assim como a realização de medidas de intensidade de radiação e densidade de poeira espacial nas proximidades da Lua. Essa poeira e essa radiação poderiam ser danosas, com efeitos imprevisíveis sobre o ser humano.
Para levar as naves Apollo ao espaço, foi desenvolvido um dos maiores e mais poderosos foguetes já construídos, o Saturno V, com três estágios e 110 metros de comprimento. Os dois primeiros estágios colocavam a Apollo no espaço, em órbita da Terra. A partir daí era acionado o terceiro e último estágio, colocando a nave na trajetória correta em direção à Lua.
A nave Apollo era composta por três partes: o módulo de comando, onde ficavam a tripulação (que mal tinha espaço para se mexer) e as provisões; o módulo de serviço, onde ficavam os motores, geradores elétricos, equipamentos de sobrevivência dos tripulantes, etc; e o módulo lunar, que levava os astronautas à superfície da Lua. Se o espaço no módulo de comando já era pequeno, no módulo lunar era menor ainda. Nele não havia assentos, os dois astronautas que desciam na Lua tinham espaço suficiente apenas para permanecer em pé. O módulo lunar por sua vez era constituído de duas partes: a superior com a cápsula de permanência dos astronautas e a inferior, que servia de plataforma de lançamento quando do retorno dos astronautas aos módulos de comando e de serviço, que ficavam em órbita da Lua.
O projeto Apollo começou de maneira trágica. Em 27 de janeiro de 1967, quando os astronautas da Apollo 1 testavam os equipamentos do módulo de comando, uma faísca provocou um incêndio. O interior da cápsula estava cheio de oxigênio puro, que é altamente inflamável, fazendo com que o fogo se espalhasse violentamente. Os três não conseguiram escapar.
Lançada em 21 de dezembro de 1968 a Apollo 8 foi a primeira nave tripulada a sair da gravidade da Terra, entrando em órbita lunar em 24 de dezembro. Durante as dez voltas que deu em torno da Lua seus tripulantes observaram possíveis futuros locais de pouso. Nunca o ser humano havia estado tão longe. Faltavam agora apenas os testes com o módulo lunar antes de pisarmos na Lua. A Apollo 9 testou manobras de separação e acoplamento na órbita da Terra, enquanto que a Apollo 10 completou os testes necessários para a descida do homem na Lua. O módulo de comando desta última ficou em órbita de nosso satélite, enquanto dois de seu tripulantes, no módulo lunar, desciam a apenas 15 km da superfície da Lua.
Em 20 de julho de 1969, presenciávamos uma das cenas mais emocionantes proporcionadas pela ciência em todos os tempos. Em todo o mundo cerca de um bilhão de pessoas assistiram pela televisão ao pouso do módulo lunar da Apollo 11, batizado de "eagle", no solo de nosso satélite. Duas horas após o pouso, Neil Armstrong saiu da nave e entrou para a história como o primeiro homem a pisar na Lua, sendo logo seguido por seu companheiro Edwin Aldrin. Os dois passaram 22 horas na Lua, sendo dessas, 2 horas e 40 minutos fora da nave.
A primeira pedra nas proximidades de nossa ilha foi assim conquistada.