Prof. Renato Las Casas (01 de julho de 2009)
Desde terça feira passada (dia 23 de junho) estamos com uma nave em órbita da Lua. A sonda norte americana “LRO” (Lunar Reconnaissance Orbiter) lançada pela NASA dia 18 passado, gastou quase cinco dias completos para chegar ao nosso satélite natural. A viagem transcorreu como programada. A entrada em órbita, que é a operação mais crítica da viagem, ocorreu sem incidentes. Ajustes de órbita e checagem dos instrumentos se completaram no dia 27. Tudo está em perfeito funcionamento.
Estamos voltando a explorar a Lua. A LRO é a primeira de uma série de naves que serão enviadas pela NASA nos próximos anos. O seu principal objetivo é justamente obter informações que facilitem as operações das demais naves (inclusive tripuladas) que lhe sucederão. Durante um ano a LRO ficará em órbita lunar, a pouco menos de 50 Km da sua superfície, procurando por locais adequados para futuras alunissagens; procurando por possíveis depósitos de gelo d’água no interior de crateras profundas (onde a luz do Sol nunca chega); detectando e medindo a radiação cósmica que chega à Lua e obtendo informações gerais e precisas sobre a topografia e composição da superfície lunar. Ao todo, a LRO leva a bordo sete instrumentos de medições científicas. Uma curiosidade: a LRO também leva a bordo um chip com 1,6 milhões de nomes de pessoas (incluindo o meu e de minhas filhas) que, por todo o mundo, responderam a uma campanha de divulgação do projeto realizada pela NASA.
Agora em julho estaremos comemorando quarenta anos em que o homem pisou na Lua pela primeira vez. Até hoje há quem duvide desse grande feito.
Não restam dúvidas que o homem foi à Lua. Procuro entender o que leva as pessoas a duvidar desse fato. Algumas têm argumentos religiosos (não vou comentar isso); outras perguntam: -Porque nunca mais voltou?; outras acreditam que se isso acontecesse, elas teriam visto daqui da Terra, mesmo a olho nu; outras vêm fraudes nas fotos oficiais divulgadas pela NASA; etc.
-Porque o homem desde 1972, com o encerramento do Projeto Apollo, até hoje, não voltou à Lua?
O que pode ser a origem desta duvida é o fato que o homem não tinha motivos científicos para descer à Lua naquela época. A União Soviética, sem precisar colocar um homem na superfície lunar, obteve informações sobre nosso satélite equivalentes às obtidas pelos Estados Unidos. Pessoalmente considero que colocar o homem na Lua foi a maior jogada de marketing de todos os tempos. E foi uma jogada de sucesso que, na “guerra fria”, colocou os Estados Unidos em ascendência em relação à União Soviética. Soma-se a isso o grande risco que os astronautas eram expostos a cada missão. As naves e os módulos lunares do Projeto Apollo não passariam em vários quesitos básicos de segurança atuais.
-Porque não vejo a bandeira dos Estados Unidos na Lua?
A Lua está a quase 400 mil quilômetros do nosso planeta. Isso faz com que não consigamos ver detalhes tão pequenos em sua superfície; nem com os maiores telescópios do mundo ou mesmo com o Telescópio Espacial Hubble. Para se ter uma idéia, o módulo lunar com aproximadamente cinco metros de diâmetro apresenta um tamanho angular inferior a 0,003 segundos de arco, à distância Terra-Lua. A resolução do Telescópio Hubble é de apenas 0,03 segundos de arco; ou seja: o módulo lunar precisaria ser no mínimo dez vezes maior para poder ser visto pelo Hubble. Note que o “pequeno” disco lunar que vemos da Terra tem uma área equivalente à área de todo o território brasileiro.
-As fotos do Projeto Apollo são fraudadas?
Para escrever esse artigo, naveguei por alguns sites da internet que pregam que o homem não esteve na Lua. Todos os sites que visitei procuram encontrar provas da “farsa” nas imagens oficiais divulgadas pela NASA. Algumas das “provas da farsa” apresentadas são infantis, como por exemplo, não reconhecer que os tamanhos em que a Terra aparece ao fundo em duas fotos são diferentes devido ao zoom das fotos; outras carecem de um pouco de conhecimento de física, como pensar que uma bandeira não pode tremular na ausência de atmosfera ou esperar o aparecimento de estrelas ao fundo em fotos com baixo tempo de exposição; outras pedem uma visualização espacial tri dimensional, para reconhecer inclinações de terreno que produzem sombras aparentemente não paralelas; etc.
Não restam dúvidas que o homem foi à Lua! Por todo o mundo, a grande maioria das pessoas que duvidam desse fato são pessoas interessadas em ciência, porém com má formação nessa área. No fundo a origem dessa dúvida está nas políticas educacionais, que não tratam o conhecimento científico como de fundamental importância na formação cultural de seus cidadãos.
2009 foi proclamado pela ONU o “Ano Internacional da Astronomia”, onde um dos objetivos é justamente divulgar ciência de uma forma “ampla, geral e irrestrita”. Isso se deve ao reconhecimento da necessidade da “alfabetização científica” na formação cultural das populações. Encontrar pessoas que duvidem que o homem foi à Lua pode nos servir de parâmetro do quanto ainda temos que trabalhar na a popularização da ciência.