Prof. Renato Las Casas (01/junho/2000)
Basicamente, um planetário é um equipamento que projeta um céu artificial em um anteparo. Essa é uma idéia tão simples que em todo o mundo, desde as mais antigas civilizações, faz parte do repertório de brincadeiras noturnas. Basta termos uma fonte de luz qualquer, como um lampião, envolvermos essa fonte de luz com um pedaço de couro, metal ou algum outro material no qual tenhamos feito furos milimétricos e temos assim o projetor de um planetário! A luz que passa por esses furos, incidindo em um anteparo qualquer, se "transforma" em estrelas.
É provável que sábios egípcios e gregos antigos e quem sabe mesmo, algum professor das crianças de nossa antiga Curral Del Rei (Prof. Marcelo da Silva Lobato? Prof. João Moreira da Silva?), tenham usado essa brincadeira como "ferramenta didática". Basta fazermos os furos do tamanho certo e na posição certa, que a luz projetada no anteparo reproduzirá, com maior ou menor precisão, o céu real. Basta girarmos o corpo que contém esses furos da maneira correta e reproduziremos o movimento das estrelas no céu em uma noite ou em um ano.
Em 1913, Oscar Von Muller, diretor do Deustches Museum, de Munique, encomendou à firma alemã Carl Zeiss um planetário "moderno". Tal planetário, projetado por Walther Bauersfeld e inaugurado em 1923, usou um sistema óptico e uma mecânica relativamente complexos para projetar imagens simuladas do céu, com uma realidade até então inimaginável, na superfície interna de uma semi esfera (abóbada ou cúpula) de 9,8 metros de diâmetro e movimentar essas imagens, possibilitando dentre outras coisas reproduzir o céu visto de qualquer região do planeta e em qualquer época. O sucesso cultural e educacional obtido foi tão grande que planetários passaram a ser inaugurados por todo o mundo.
O primeiro projetor e a primeira cúpula
(montada provisoriamente no teto da fábrica da Zeiss em Jena - Alemanha)
Na década passada, além da máquina clássica de projeção das estrelas e planetas, novos projetores passaram a fazer parte do equipamento de um planetário. O desenvolvimento da informática e da robótica têm permitido o uso simultâneo e/ou consecutivo de vários projetores tais como projetores de slides; de vídeo; vídeo-lasers; cinema 1800; etc.; formando na cúpula uma imagem única, em movimento ou não, aumentando em muito não só a fascinação de uma sessão de planetário como também as suas possibilidades didáticas.
Projeto do "Teatro Espacial", para o planetário de Belo Horizonte, onde merecem destaque a cúpula de projeção (11); o sistema de múltiplos projetores (17); o cinema hemisférico (22) e o projetor clássico (23).
A base para o desenvolvimento de uma nação é a cultura de seu povo. Nas últimas décadas, desenvolvimentos científicos e tecnológicos têm mudado o cotidiano das populações em todo mundo. Notadamente cidadãos ocidentais, vivem hoje mergulhados em um "mar tecnológico" do qual raríssimamente compreendem os seus princípios básicos. Para a maioria destes cidadãos, mesmo para aqueles de países ditos do "primeiro mundo", televisão, por exemplo, é uma espécie de janela mágica da qual eles sabem apenas ligar, desligar ou mudar de canal. Vários problemas envolvendo saúde, nutrição, transporte, energia, lazer, etc.; são resolvidos por meio de instrumentos misteriosos que de alguma forma satisfazem suas necessidades imediatas. Quanto mais ciência e tecnologia o cidadão usa em seu cotidiano, mais se sente incapaz de entender o mundo em que vive.
O sistema escolar, em todos os seus níveis, desde o início do século, tem vivido um dilema. Por um lado vê-se ante a necessidade de uma especialização, em todas as áreas, e especialmente em relação à ciência. Esta especialização cada vez mais requer ter o seu início em níveis mais elementares de estudo. Por outro lado persiste a idéia clássica de uma educação globalizante, harmônica e ambivalente.
As sociedades mais avançadas, atentas a este problema, têm desde o início do século procurado minimiza-lo ou mesmo resolvê-lo através de instituições de divulgação científica tais como "museus de ciência", "planetários", "centros de ciência" e mais recentemente através de "cidades de ciência e tecnologia". Estas instituições apresentam propostas educativas e informativas que se desenvolvem de maneira essencialmente informal, não competitiva e não regular. Nestas instituições o visitante, mais curioso que estudioso, deve encontrar por um lado respostas claras às questões que ele formula consciente ou inconscientemente acerca do "universo científico e tecnológico" em que vive; por outro lado, sua imaginação deve receber estímulos suficientes para que ele se sinta capaz de visualizar os caminhos em que a sociedade da qual participa percorre, prevendo essa mesma sociedade em tempos futuros.
Dentro dessa visão de instituição de divulgação científica foi planejado o Planetário da UFMG; um museu moderno de ciências que, reconhecendo a excelência da Astronomia na introdução de adultos e crianças aos "mistérios" das ciências, tem a pretensão de contribuir decisivamente para o desenvolvimento científico e tecnológico de nosso estado. O trabalho de divulgação científica realizado pelo Observatório Astronômico da Serra da Piedade além de mostrar de forma inequívoca o grande interesse dos mineiros por ciência em geral e por astronomia em particular também tem revelado uma imensa potencialidade científica de nosso povo.
Jogo de luz proporcionado pelo uso simultâneo de vários projetores em um planetário moderno.