Prof. Túlio Jorge dos Santos
Mercúrio e Vênus são os planetas interiores do Sistema Solar. Encontram-se entre a Terra e o Sol e seus nomes derivam da mitologia grega: Mercúrio o mensageiro dos Deuses e Vênus, a Deusa da beleza e do amor (Afrodite). O nome Mercúrio deve ter sido dado devido ao movimento rápido que o planeta executa em sua revolução em torno do Sol (88 dias). O planeta Vênus deve ter sido nomeado provavelmente por ser o astro mais brilhante no céu, à exceção do Sol e Lua.
Por se encontrarem próximos ao Sol, os dois planetas têm aparições matutinas e vespertinas. Esse fato levou os gregos a nomearem esses planetas segundo suas aparições. Apolo (matutino) e Hermes (vespertino) para Mercúrio; Eosphorus e Hesperus respectivamente para Vênus. No caso de Mercúrio já se sabia que se tratava do mesmo objeto, Vênus foi durante algum tempo considerado dois objetos distintos em suas aparições. De qualquer maneira, Heráclito (~500 AC) já acreditava que Mercúrio e Vênus giravam em torno do Sol.
Suas Características físicas são:
Distância ao Sol
(Km) |
Diâmetro
(Km) |
Massa
(Massas da terra) |
|
---|---|---|---|
Mercúrio | 58,000,000 | 5,000 | 0.06 |
Vênus | 108,200,000 | 12,104 | 0.82 |
Os dois planetas possuem órbitas bem diferentes:
A de Mercúrio é altamente excêntrica: seu periélio está a 46 milhões de km do Sol e seu afélio a 70 milhões. O periélio precessa lentamente em torno do Sol. Astrônomos no século XIX fizeram medidas cuidadosas dos parâmetros orbitais do planeta mas não conseguiram explicar esse "avanço" do periélio usando a Mecânica Newtoniana disponível na época. As tênues diferenças entre os valores previstos e os valores observados marcaram as discussões por algumas décadas. Pensou-se, inclusive, na possibilidade da existência de um outro planeta (Vulcano), em órbita próxima de Mercúrio que justificasse as discrepâncias. Porém, foi a Teoria da Gravitação Generalizada de Einstein (Relatividade)*, que deu a resposta a tal questão e sua correta predição para os movimentos de Mercúrio foi um dos fatores que auxiliaram na aceitação dessa teoria.
A órbita de Vênus é quase um círculo, sua excentricidade é menor que 1% e é a que mais se aproxima da Terra (~ 40 milhões de Km). Vênus apresenta fases como a Lua. A descoberta desse fato por Galileu (~1600) foi uma contribuição definitiva para a aceitação do modelo heliocêntrico.
Suas rotações também se distinguem:
Mercúrio gira três vezes em torno de si enquanto dá duas voltas em torno do Sol. A rotação de Vênus é bastante peculiar em dois aspectos: é muito lenta (243 dias da Terra para um dia de Vênus) e é retrógrada.
A atmosfera de Mercúrio é formada por uma fina camada de átomos excitados pelo forte vento solar incidente.
A de Vênus é constituída predominantemente de dióxido de carbono. Existem também inúmeras camadas, de vários quilômetros de espessura, compostas de ácido sulfúrico.
Embora Mercúrio se encontre mais próximo do Sol é "mais frio" (-170ºC a 500ºC) que Vênus (130ºC a 470ºC), isso se deve ao efeito estufa da atmosfera e da maior refletividade da superfície de Vênus.
Mercúrio foi visitado apenas pela sonda Mariner 10 em três ocasiões entre 1974 e 1975, somente 45% da superfície do planeta foi mapeado. A imagem ao lado é um mosaico das imagens dessa missão.
* Pela teoria de Einstein a interação gravitacional se dá através da ação recíproca entre matéria e geometria do espaço-tempo; na máxima: "matéria diz ao espaço-tempo como se curvar, a curvatura do espaço-tempo diz à matéria como se mover". A proximidade do planeta de um corpo tão massivo quanto o Sol o faz mover-se em um espaço-tempo cuja geometria local provoca tais perturbações em sua órbita.
A primeira sonda a visitar Vênus foi a Mariner 2 em 1962. A partir daí são mais de 20 missões, incluindo a Venera 7 soviética, a primeira a pousar na superfície de um outro planeta. Além disso, o campo gravitacional de Vênus tem sido utilizado como acelerador de sondas para planetas mais distantes como nas missões Galileu para Júpiter (imagem ao lado) e Cassini para Saturno.
Até os anos 60, Vênus era considerado "nossa irmã gêmea", não apenas por sua proximidade da Terra, mas também por certas características de sua superfície. As semelhanças marcantes são: seu tamanho (95% do da Terra); sua massa (82%) e a aparência de sua atmosfera superior (densas nuvens). Depois, as diferenças ficaram claras: Atmosfera propriamente dita (CO2 e ácido sulfúrico), pressão superficial 93 vezes maior que a da Terra (equivalente a 1 Km de profundidade no oceano); temperatura na superfície (~ 400ºC), o suficiente para fundir o chumbo.
Mercúrio é o segundo menor planeta do sistema solar (menor que Ganimede e Titan) e o segundo planeta mais denso. Mercúrio é em muitos aspectos similar à nossa Lua: sua superfície é muito velha, cheia de crateras de impacto e não apresenta placas tectônicas.
A superfície de Vênus consiste de planícies com um pouco de relevo, extensas depressões, e duas grandes áreas de terras altas; uma no hemisfério norte (do tamanho aproximado da Austrália) e outra ao longo do equador (do tamanho aproximado da América do Sul). Imagens da sonda Magalhães mostram que grande parte da superfície do planeta é coberta por fluxo de lavas e também a existência de vários vulcões extintos, o que indica que Vênus deve ter tido uma grande atividade vulcânica a pelo menos 600 milhões de anos atrás. Vênus ainda apresenta alguma atividade vulcânica, mas somente em alguns locais, sendo que, atualmente sua superfície é geologicamente calma.
Mercúrio tem um núcleo de ferro de cerca de 1,900 km de raio, coberto por uma camada de silicato de cerca de 600 km de espessura. Vênus deve ter o interior muito parecido com a Terra: um núcleo de ferro de 3,000 Km de raio coberto por uma manta rochosa.
Observações por radar apontam para a existência de água em forma de gelo em crateras profundas do pólo norte de Mercúrio. Já Vênus, provavelmente teve grande quantidade de água, tal como a Terra. Essa água, no entanto evaporou.
Mercúrio tem um pequeno campo magnético (1% do da Terra) e Vênus devido a sua lenta rotação, não possui campo magnético.
Mercúrio será visitado por duas sondas, uma que está sendo preparada pela Agência Espacial Européia (ESA) e outra que está sendo preparada pela NASA. A sonda européia, chamada BepiColombo, em homenagem ao cientista italiano Giuseppe Colombo, um dos pioneiros da pesquisa espacial (1920-1984), tem por objetivos, dentre outros: fazer o mapeamento em imagens de toda superfície do planeta; colher dados sobre a geoquímica dessa superfície; estudar os campos, gravitacional e magnético do planeta. A sonda americana chamada Messenger, terá por principais objetivos: levantar a origem da alta densidade do planeta; sua história tectônica; a estrutura de sua crosta, sua fina atmosfera e pequena magnetosfera, etc.