De
nebulosa a galáxia
Muitos objetos extensos e difusos observados antes do século XX foram chamados
de "nebulosas". Objetos como aglomerados estelares, nebulosas planetárias e até
mesmo galáxias hoje conhecidas (chamadas de “nebulosas espirais” naquela época)
foram colocados na categoria de nebulosas. Aproximadamente 15 mil nebulosas
estavam catalogadas até o início daquele século. Várias delas eram de fato
aglomerados de estrelas ou nebulosas de gás e poeira. Contudo, ainda não se
compreendia muito bem o que realmente eram as “nebulosas espirais”. Esta figura
mostra a galáxia Triângulo (M33 ou NGC 598), na constelação do Triângulo, a
aproximadamente 2,9 milhões de anos-luz da Terra; o aglomerado estelar globular
Ômega Centauro (NGC 5139), na constelação de Centauro, a aproximadamente 15 mil
anos-luz; a nebulosa da Lagoa (M8) na constelação de Sagitário, localizada a
cerca de 5 mil anos-luz da Terra.

Da esquerda para a direita: M33, NGC
5139 e M8 (Imagens: Robert Gendler)
Os astrônomos discordavam entre si quanto ao fato
das “nebulosas espirais” pertencerem a Via Láctea ou não. A grande dificuldade
era conhecer a distância entre nós e esses objetos. Na década de 1920 o
astrônomo estadunidense Edwin Powell Hubble (1889-1953), usando o telescópio de
Mount Wilson, Califórnia, Estados Unidos, identificou uma Cefeida na “nebulosa
espiral” Andrômeda. Cefeida é uma estrela variável, sendo o período de variação
do brilho proporcional ao seu brilho absoluto. Usando a relação entre
luminosidade e período de variáveis Cefeidas da Via Láctea e medindo o brilho
aparente da Cefeida situada em Andrômeda, Hubble obteve a distância entre nós e
a “nebulosa espiral”, encontrando, segundo a equipe de Cosmic
Times, do site Imagine the Universe!, NASA, um valor próximo de 900 mil
anos-luz. Essa distância ultrapassava os limites da Via Láctea que, na época, de
acordo com os trabalhos do astrônomo estadunidense Harlow Shapley (1885-1972),
possuía aproximadamente 300 mil anos-luz de diâmetro. Com essa descoberta as
chamadas “nebulosas espirais” passaram a ser consideradas sistemas
independentes, constituindo outras galáxias. A partir daí, a Via Láctea não mais
englobava tudo o que existe no Universo, sendo apenas uma entre bilhões de
galáxias distribuídas pelo espaço.
A
Andrômeda que conhecemos hoje
Catalogada como M31 no catálogo Messier e NGC 224
no Novo Catálogo Geral (do inglês New General Catalogue), a galáxia de Andrômeda
está situada na constelação com esse mesmo nome e, como já mencionado, a uma
distância de aproximadamente 2,5 milhões de anos-luz da Terra. Isso significa
que a Andrômeda que vemos hoje é aquela de 2,5 milhões de anos atrás, pois a luz
que sai dessa galáxia e nos possibilita enxerga-la demorou todo esse tempo para
chegar até aqui. Com mais de 200 mil anos-luz de diâmetro, mais que o dobro do
diâmetro da nossa Galáxia (com cerca de 100 mil anos-luz), M31 é um dos membros
com maior massa do Grupo local, ao lado de Via Láctea e Triângulo. O grande
tamanho de Andrômeda talvez possa também ser atribuído a uma possível captura,
ao longo de bilhões de anos, de matéria (como gás, poeira e estrelas) de galáxias
menores próximas a ela.
A próxima imagem exibe Andrômeda com seus braços espirais partindo de uma região
central protuberante denominada bojo ou núcleo galáctico, sendo essa uma forte
característica para classificá-la como uma galáxia espiral. As estrelas desse
tipo de galáxia orbitam o bojo, podendo levar centenas de milhões de anos para
dar uma volta completa ao redor dele.

Galáxia de Andrômeda (M31 ou NGC
224) (Imagem: Robert Gendler)
Centenas de bilhões de estrelas pertencentes à M31 são a causa da luz difusa
vista na imagem. Na parte inferior e à direita do centro da galáxia está M110 e
um pouco acima e à esquerda do mesmo centro, bem na borda da galáxia,
encontra-se M32. Ambas galáxias satélites de Andrômeda. Os demais pontos
luminosos que estão isolados em torno de M31 são estrelas da nossa Galáxia.
Observando Andrômeda
Para apreciar a beleza desta galáxia, saiba que ela pode ser vista a olho nu na
constelação de Andrômeda. Porém, ao observar sem nenhum instrumento, M31
parecerá uma mancha esbranquiçada, muito pequena, no céu. A Grande Nuvem de
Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães também são galáxias que podemos ver a
olho nu e, assim como elas, Andrômeda pode ser melhor observada com uso de
telescópios de maior abertura, de modo que maior quantidade de luz seja captada
deste objeto pouco luminoso quando visto da Terra.
As figuras abaixo mostram a constelação de Andrômeda. Na primeira vemos a
constelação representada artisticamente, com as estrelas no fundo. Já na segunda
figura observamos apenas as estrelas da constelação. Em ambos os casos, suas
estrelas mais brilhantes estão ligadas por segmentos vermelhos.

Constelação de Andrômeda. Abaixo e à
esquerda, parte da constelação de Peixes. Acima e à direita, parte da
constelação de Cassiopéia. (Imagem obtida no Stellarium 0.9.1)

Constelação de Andrômeda. Abaixo e à
esquerda, parte da constelação de Peixes e, mais acima, constelação do
Triângulo. Acima e à direita, parte da constelação de Cassiopéia. (Imagem
obtida no Stellarium 0.9.1)
Para localizar M31, observe uma estrela mais brilhante chamada Beta de Andrômeda
(conhecida como Mirach). Nas figuras acima é um ponto “grande” e amarelado. Após
isso, observe um pouco mais à direita de Mirach uma mancha muito pequena,
semelhante a uma estrelinha difusa. Pois bem, essa é a galáxia de Andrômeda! Nas
imagens, M31 está bem no centro da “mira” com bordas azuis.
É importante lembrar que dependendo da data, do horário e do local onde se
observa a constelação de Andrômeda, nem sempre M31 estará à direita de Mirach.
Isso ocorre porque a constelação como um todo pode variar seu ângulo em relação
à posição em que se encontra nas figuras acima, de acordo com a localização do
observador na superfície da Terra e com a data e horário da observação. Por
isso, pode ser que no momento da observação, a galáxia de Andrômeda esteja, por
exemplo, mais abaixo ou mais acima da posição vista nas imagens.
Se você for usar um telescópio e quiser apontá-lo consultando as coordenadas,
abaixo está a localização de Andrômeda no sistema equatorial.
Ascensão Reta: 0h43m22s Declinação: +41º22’15’’
Qualquer que seja a maneira usada para observar Andrômeda, essa galáxia é sempre
uma maravilha no céu noturno. Além de toda a sua beleza, M31 nos mostra que
nossa Galáxia é apenas um entre tantos “pequenos universos” distribuídos por
todo esse espaço de dimensões inimagináveis.